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Como um Personal Trainer pode ajudar Idosos com hipotensão postural durante as aulas.

  • Foto do escritor: Roberto Oliveira
    Roberto Oliveira
  • 5 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 6 dias


A hipotensão postural, também conhecida como hipotensão ortostática, é uma condição clínica caracterizada pela queda abrupta da pressão arterial ao mudar da posição deitada ou sentada para a posição em pé. Definida como uma redução de pelo menos 20 mmHg na pressão arterial sistólica ou 10 mmHg na diastólica dentro de três minutos após a mudança postural, esta condição afeta significativamente a população idosa, comprometendo sua qualidade de vida e aumentando o risco de quedas e fraturas.

Com o envelhecimento populacional brasileiro, estima-se que até 2030 o país terá aproximadamente 41,5 milhões de idosos, representando 18% da população total. Neste contexto, a hipotensão postural emerge como um desafio relevante para profissionais de saúde, especialmente para os educadores físicos e personal trainers que trabalham com este público.

A prática regular de exercícios físicos é amplamente reconhecida como uma estratégia eficaz para melhorar a saúde e a qualidade de vida dos idosos. No entanto, quando se trata de indivíduos com hipotensão postural, é necessário um cuidado especial na prescrição e supervisão das atividades físicas. É neste cenário que o personal trainer assume um papel fundamental, atuando como um profissional capacitado para adaptar os exercícios às necessidades específicas deste grupo, minimizando riscos e maximizando benefícios.


Compreendendo a Hipotensão Postural no Idoso

A hipotensão postural é uma manifestação de disfunção autonômica ou de uma resposta inadequada do sistema cardiovascular ao estresse postural. Em condições normais, quando nos levantamos, ocorre um deslocamento de aproximadamente

500-700 ml de sangue para os membros inferiores e região esplâncnica. Este deslocamento provoca uma redução temporária do retorno venoso, do débito cardíaco e, consequentemente, da pressão arterial.

Em indivíduos saudáveis, mecanismos compensatórios são rapidamente ativados: os barorreceptores detectam a queda da pressão e desencadeiam uma resposta autonômica que inclui aumento da frequência cardíaca, vasoconstrição periférica e ajustes na resistência vascular, restabelecendo assim a pressão arterial. No entanto, com o envelhecimento, estes mecanismos compensatórios podem se tornar menos eficientes.

Entre os principais fatores de risco para hipotensão postural em idosos, destacam-se:

 1.  Idade avançada: O envelhecimento está associado à diminuição da sensibilidade barorreflexa e à menor capacidade de resposta autonômica.

2.  Uso de medicamentos: Diuréticos, betabloqueadores, vasodilatadores, antidepressivos tricíclicos e medicamentos antiparkinsonianos podem induzir ou agravar a hipotensão postural.

3.  Doenças crônicas: Diabetes mellitus, insuficiência cardíaca, neuropatias autonômicas e doenças neurodegenerativas como Parkinson aumentam significativamente o risco de disfunção autonômica.

4.  Desidratação e hipovolemia: A diminuição do volume sanguíneo reduz a capacidade do sistema cardiovascular de compensar as mudanças posturais.

5.  Imobilidade prolongada: Pacientes acamados ou com mobilidade reduzida apresentam maior risco devido ao comprometimento do tônus muscular e redução da ativação do sistema venoso.

Os sintomas da hipotensão postural podem variar de leves a intensos, incluindo tontura, vertigem, visão turva, fraqueza muscular, palpitações, náusea, sudorese e, em casos mais graves, síncope (desmaio). Estes sintomas não apenas comprometem a qualidade de vida, mas também aumentam significativamente o risco de quedas, que representam a principal causa de lesões e hospitalizações entre idosos.

 

O personal trainer desempenha um papel crucial no atendimento a idosos com hipotensão postural, desde a avaliação inicial até a prescrição e supervisão dos exercícios. A seguir, são apresentadas as principais etapas deste processo:


1.  Avaliação Físico Funcional

Antes de iniciar qualquer programa de exercícios, é fundamental que o personal trainer realize uma avaliação completa do idoso, que deve incluir:

• Histórico médico detalhado: Identificação de doenças pré-existentes, medicamentos em uso e histórico de episódios de hipotensão postural.

• Avaliação da pressão arterial em diferentes posições: Medição da pressão arterial com o idoso deitado, sentado e em pé, observando as variações que ocorrem com a mudança postural.

• Avaliação da capacidade funcional: Análise da força muscular, equilíbrio, flexibilidade e capacidade cardiorrespiratória.

• Identificação de fatores de risco: Reconhecimento de condições que podem agravar a hipotensão postural, como desidratação, uso de medicamentos específicos ou jejum prolongado.

É importante ressaltar que esta avaliação deve ser realizada em conjunto com a equipe médica que acompanha o idoso, garantindo uma abordagem interdisciplinar e segura.


 2.  Estratégias para Prevenção e Manejo da Hipotensão Postural

Com base na avaliação inicial, o personal trainer pode implementar diversas estratégias para minimizar os riscos associados à hipotensão postural durante a prática de exercícios:

a)  Adaptação Postural Gradual

• Transições lentas entre posições: Orientar o idoso a realizar mudanças posturais de forma gradual, evitando movimentos bruscos.

• Período de adaptação: Antes de iniciar os exercícios em posição ortostática, permitir que o idoso permaneça sentado por alguns minutos após levantar-se da posição deitada.

• Técnicas de respiração: Ensinar técnicas respiratórias que auxiliem na estabilização da pressão arterial durante as mudanças posturais.

 b)   Hidratação Adequada

• Monitoramento da ingestão hídrica: Orientar o idoso a manter-se bem hidratado antes, durante e após os exercícios.

• Evitar exercícios em jejum: Recomendar pequenas refeições antes das sessões de treinamento para manter níveis adequados de glicemia.

 c)  Uso de Meias de Compressão

• Recomendação de meias elásticas: Sugerir o uso de meias de compressão graduada, que auxiliam no retorno venoso e reduzem o acúmulo de sangue nos membros inferiores.

d)   Monitoramento Contínuo

• Verificação regular da pressão arterial: Medir a pressão arterial antes, durante e após os exercícios, especialmente nas primeiras sessões.

• Atenção aos sinais de alerta: Observar constantemente sinais como palidez, sudorese excessiva, tontura ou confusão mental.


 3.  Prescrição de Exercícios 

A prescrição de exercícios para idosos com hipotensão postural deve ser individualizada e progressiva, considerando as particularidades de cada caso. Algumas recomendações incluem:

a)  Exercícios de Fortalecimento Muscular

• Foco nos membros inferiores: Priorizar o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores, especialmente panturrilhas e coxas, que atuam como "bomba muscular" auxiliando no retorno venoso.

• Progressão gradual: Iniciar com exercícios de baixa intensidade e aumentar progressivamente a carga conforme a adaptação do idoso.

• Exercícios em posição sentada ou deitada: Nas fases iniciais ou em casos mais graves, priorizar exercícios que não exijam a posição ortostática.

 

b)   Exercícios Aeróbios Adaptados

• Modalidades de baixo impacto: Optar por atividades como caminhada leve, ciclismo estacionário reclinado ou exercícios aquáticos.

• Intensidade moderada: Trabalhar preferencialmente entre 40-60% da frequência cardíaca máxima, evitando esforços muito intensos que possam provocar hipotensão pós-exercício.

• Duração progressiva: Iniciar com sessões curtas (10-15 minutos) e aumentar gradualmente conforme a tolerância do idoso.

 

c)  Exercícios de Equilíbrio e Propriocepção

• Treinamento de equilíbrio: Incluir exercícios que desafiem o equilíbrio de forma segura, sempre com suporte adequado para evitar quedas.

• Exercícios proprioceptivos: Trabalhar a consciência corporal e a resposta a mudanças posturais.

 

d)   Técnicas de Relaxamento e Respiração

• Práticas de respiração controlada: Ensinar técnicas que auxiliem na regulação da pressão arterial.

• Métodos de relaxamento: Incluir momentos de relaxamento ao final das sessões para estabilização dos parâmetros cardiovasculares.


Benefícios do Exercício

Quando adequadamente prescrito e supervisionado por um profissional de educação física qualificado, o exercício físico pode trazer diversos benefícios:

1.  Melhora da resposta autonômica: O treinamento regular pode melhorar a sensibilidade barorreflexa e a resposta do sistema nervoso autônomo às mudanças posturais.

2.  Fortalecimento da "bomba muscular": O desenvolvimento da musculatura dos membros inferiores auxilia no retorno venoso, reduzindo o acúmulo de sangue nas extremidades durante a ortostase.

3.  Aumento do volume plasmático: A prática regular de exercícios pode levar a um aumento do volume sanguíneo, melhorando a tolerância às mudanças posturais.

4.  Melhora da capacidade funcional geral: O treinamento adequado promove ganhos de força, equilíbrio e resistência, contribuindo para maior independência nas atividades diárias.

5.  Redução do risco de quedas: O fortalecimento muscular e a melhora do equilíbrio diminuem significativamente o risco de quedas relacionadas à hipotensão postural.

6.  Benefícios psicológicos: A prática de exercícios supervisionados aumenta a confiança do idoso em realizar atividades cotidianas, reduzindo o medo de cair e melhorando sua qualidade de vida.


A hipotensão postural representa um desafio significativo para a prática de exercícios físicos na população idosa.


A abordagem individualizada, o monitoramento constante e a progressão gradual são elementos-chave para o sucesso de um programa de exercícios para idosos com hipotensão postural. Quando implementado corretamente, este programa pode contribuir significativamente para a melhora da capacidade funcional, redução do risco de quedas e aumento da independência, permitindo que o idoso desfrute de uma vida mais ativa e saudável, mesmo na presença desta condição.

 

Referências Bibliográficas


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